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"Nem na moda, nem na vida existe certo ou errado. É melhor cometer um erro fundamental do que cair na mesmice mundial". A frase dita pela editora de moda Regina Guerreiro cai bem para esse momento do mundo. Assumir os erros é tendência.

Os youtubers são as celebridades da vez e se dão muito bem com os próprios erros. Como muitos deles gravam em suas próprias casas estão sujeitos as intempéries do cotidiano. Telefone tocando, o cachorro fazendo participação especial... As falhas da gravação deixaram de ser extras e foram incorporadas como linguagem. São inclusive destacadas com filtros diferenciados na edição.

No livro "O Guia Oficial do TED para falar em público" (ed. Intrínseca - tá, me rendi a mais um best seller), o autor Chris Anderson pontua sua desconfiança com o excesso de segurança de palestrantes. Quem lê o blog ou o acompanha nas redes sociais sabe que sou bem fã desta plataforma on-line. Na metodologia aplicada para as palestras a insegurança e a possibilidade constante de errar integram o processo.

Para Anderson, o sucesso do evento também está relacionado com a revalorização da narrativa oral. Ela pode ser notada nas mensagens de voz do whatsapp e na popularização dos pitchings para selecionar projetos, por exemplo. Lembrei de outra frase, esta falada por um designer cuja palestra vi há alguns anos: "se você não consegue explicar sua ideia por telefone, então ela não é boa".

O TED começou modesto e off line em uma universidade da Califórnia. O evento ganhou o mundo graças a internet. De neurocientista a professora de sedução todos têm espaço por lá. Hoje funciona como uma franquia. Acontece em versões locais por meio da nomenclatura TEDx(tema, local).

As palestras do TED não devem ultrapassar  18 minutos. Além de ser uma referência em sua profissão, o candidato a palestrante passa por um rigoroso processo de treinamento. O objetivo é uma conferência concisa e didática, capaz de seduzir o público "leigo" em determinado assunto. As palestras têm registro em vídeo e ganharam dimensão global, por isso o uso de termos técnicos e do academiquês são terminantemente proibidos.

Não há fórmula para palestrar. Pode ser com ou sem power point. Respaldado por um púlpito ou caminhando livremente pelo palco. Usando ou não fichas de lembrete. Já o teleprompter é desaconselhável. A plateia se sente incomodada quando percebe o convidado lendo. A autenticidade do conferencista e sua paixão pelo tema levado ao palco são os denominadores comuns das palestras campeãs de visualizações.

Uma vez selecionado, o palestrante passa por uma preparação de acordo com seu jeito de ser. A fala do convidado é revisada várias vezes pela equipe do TED. Para enxugar muita teoria, ou para capacitar verbalmente quem só tem a prática. Foi o caso do garoto queniano Richard Turere. Ele inventou um incrível dispositivo luminoso para espantar os leões, mas nunca havia explicado ao mundo sua criação. Casos pessoais devem ser o vetor para transmitir a essência de sua ideia. Quem muito fala e pouco faz é rapidamente desmascarado pela plateia.

A mensagem do livro é compartilhar o conhecimento e fazer da sua ideia inovadora o motor de inspiração para outras pessoas.

Há um capítulo dedicado ao traje ideal para falar em público. O autor certa vez subiu ao palco de calça e blusa pretas combinadas com um colete amarelo. Depois descobriu que a plateia havia o apelidado de "abelha". Como costuma errar bastante na escolha de seus figurinos, transferiu a responsabilidade do capítulo para uma consultora de imagem chamada Kelly Stoetzel. As dicas são bem previsíveis. Usar roupas com as quais você se sinta bem e confortável. Evitar as listras porque elas podem fazer a imagem do vídeo tremer. Esquecer da presença dos sapatos nos pés. Mais vale uma sola no chão do que um salto doendo. A informação mais relevante consiste em usar cores vivas para captar subliminarmente a atenção do público. Vale rosa choque, azulão, laranja.

Mônica Lewinsky usou uma calça preta e uma camisa azul petróleo quando ministrou a palestra "O Preço da Vergonha" em março de 2015. É a conferência mais citada ao longo do livro e um dos TEDs mais vistos, com mais de 8 milhões de visualizações. Depois de uma breve introdução a ex-estagiária da Casa Branca pergunta à plateia: "Quem aqui não cometeu um erro aos 22 anos?".

As Olimpíadas ajudaram a nos mostrar que o acerto absoluto reserva somente um lugar no pódio. Você já errou hoje?


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