uma história verde

Se não falha a resolução de cor do cinema, o tom do traje do capitão era verde-água. Bob ganhou de presente de um estilista simpático à sua causa. Seu barco estava de partida por mares ideologicamente nunca dantes navegados.

No final do ano passado fui assistir, à convite da Renata, o documentário "Como Mudar o Mundo"? O filme conta a história dos primeiros anos da ONG Greenpeace. Um grupo formado por canadenses hippies-conceito (barbudos, magros e usuários de alucinógenos) alugou um navio para protestar contra os testes de bomba atômica que os EUA estavam realizando nos anos 1970 (a imagem BIZARRA do teste pode ser vista no trailer).


Com o mesmo barco partiram para interceptar navios baleeiros (os japoneses vão voltar a caçar baleias ). Depois foram ao polo norte tentar impedir a matança das focas.

(Parênteses sobre casaco de pele  O filme me fez pensar que matar foca ou qualquer outro bicho pra fazer casaco e  jogar o resto fora é um hábito um tanto quanto pré-histórico, não é mesmo? Nos anos 1980 e 1990 usar pele era sinal de mau gosto. Não sou vegetariana nem militante da causa animal, porém, custava a entender porque esta estética perdura. A indústria têxtil tem recursos e design de sobra para criar peças desejáveis e igualmente quentinhas.  Foi graças a habilidade de Anna Wintour, editora-chefe da Vogue América, em negociar com o outro lado do balcão, que as peles voltaram às passarelas e às páginas da Vogue. Foram ao encontro à fome de glamour do emergente mercado asiático. Grace Coddington, a editora de moda da Vogue, dá esta informação sutilmente no documentário "The September Issue").

Os fundadores do Greenpeace sabiam do poder da mídia. Desde o inicio entenderam a necessidade de gerarem o próprio conteúdo. Afinal, quem acreditaria em hippies fãs de LSD? As imagens de arquivo são preciosas e dignas de filmes de ação.

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Frame das imagens de arquivo do Greenpeace/ foto: divulgação


A pergunta-título é respondida em cinco partes e organizam o filme em capítulos.

Os passos para mudar o mundo são:

1 - Plante uma ideia explosiva (Plant a mind bomb);

2- Faça seu corpo acompanhar às suas palavras (Put your body where your mouth is) - (em outras palavras: não fale, faça!);

3- A revolução não será organizada (The revolution will not be organised);

4- Tema o Sucesso (Fear success)

5- Espalhe o poder (Let the power go).

Em off, as palavras do dono do terno verde-água, Bob Hunter, principal mentor do Greenpeace, vão conduzindo a narrativa.

Um dos trunfos do longa-metragem é mostrar o lado humano dos ativistas. Hunter fumava compulsivamente, bebia e foi viciado em Valium. A superexposição repentina amplificou as diferenças de caráter dos integrantes e quase colocou tudo a perder. Paul Watson, o mais radical entre os membros fundadores, por exemplo, deixou o grupo em 1977 e fundou a Sea Shepherd. Vale ressaltar que a produção não foi feita pela ONG. Quem assina a direção é o britânico Jerry Rothwell.

No livro "Americanah", da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, em uma passagem a narradora observa que uma amiga de sua chefe considera os menos abastados sempre bons e inocentes. Como se fossem menos humanos do que os ricos. Tal rótulo imaculado também costuma recair sobre ativistas e pessoas ligadas a grupos que lutam por justiça social ou por um mundo melhor.  A insegurança, o ego inflado, a conta de luz e problemas familiares não fazem distinção de credo, cor ou classe social.

O verde-água do uniforme de capitão, a roupa do Super-Man e do Homem-Aranha não passariam pelo crivo da Anna Wintour. Ser um bom ativista requer um pouquinho de inocência de criança para nem tomar conhecimento da opinião dos outros e deixar o super-herói aflorar. Ah! Um visual marcante também ajuda ;)

O filme deve estrear no Brasil em março.


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