Alexandra Kehayoglou trabalhando em Buenos Aires/
Foto: Emiliano Granado©/ T Magazine (NYT)
"A moda prevê as revoluções", disse a lendária editora de moda Diana Vreeland em entrevista reproduzida no ótimo documentário "O Olhar tem que viajar"(em cartaz no Netflix).
Anda comum ouvir comparações do momento atual com a efervescente década de 1960 (na qual Diana foi a responsável por trazer inovações à imprensa de moda). O impacto da introdução da minissaia no guarda-roupa feminino ecoa até hoje. A "mini" anteciparia o grito de liberdade feminina e dos jovens de maneira geral. No final da citada década começou o movimento hippie, que avançaria através da década seguinte devidamente incorporado à moda.
No último São Paulo Fashion Week falou-se muito da moda feita à mão. E no trabalho artesanal pode morar o verdadeiro savoir-faire da moda brasileira, sempre tão questionado e procurado.
"Mãos que fazem" - reportagem interessante sobre o processo criativo de marcas e estilistas durante o último SPFW.
Seria essa volta ao artesanal o movimento hippie do nosso tempo? Hippie wi-fi, como brincou Pablo, amigo argentino, representante do país que mais exporta hippies malabaristas. Parece que não.
O que se viu no SPFW foi o "feito à mão" sem nostalgia. Pelo contrário. É uma tentativa de unir as pontas do conhecimento, com inovação e muita vontade de dialogar com o mercado. De uma vez por todas ser incluso no sistema da moda sem assistencialismo.
E não é só a moda que prevê as revoluções. Todas as manifestações culturais o fazem. Talvez as artes plásticas saiam algumas pegadas na frente das outras. Representantes dos laboratórios de tendências mais conceituados do mundo costumam recomendar a observação atenta da arte contemporânea para os aspirantes a coolhunter. A sensibilidade dos artistas costuma ser uma seta de indicação rumo as mudanças de comportamento futuras.
Como observadora novata do mundo das artes, graças a convivência com os amigos entendidos Rogério, Marina e ao G>E, estou aprendendo a olhar instalações, performances e eventos artísticos do tipo "até meu filho fazia", como vulgarmente costuma-se dizer da arte contemporânea. Ainda estou, e talvez sempre estarei, um pouco condicionada com as referências da moda, e minha própria anteninha entra em curto quando os dois mundo se conectam.
Foi assim com o trabalho da argentina Alexandra Kehayoglou, de 33 anos, responsável pelo cenário do desfile de verão 2015 do Dries Van Noten. A imagem do final da apresentação, com as modelos pousadas em cima do tapete, foi uma das mais divulgadas daquela temporada. Alexandra tem ascendência grega e herdou da família o conhecimento das técnicas de tapeçaria.
Dries Van Noten, verão 2015 na Semana de moda de Paris/
Foto: Valerio Mezzanotti© The New York Times
O vídeo a seguir mostra o processo de confecção do tapete:
A brasileira Maria Nepomuceno, de 39 anos, também aposta em técnicas têxteis. Ela cria estruturas gigantes usando fios, cordas, além de outros materiais e técnicas que remetem a trabalhos manuais, como contas e miçangas.
A artista deitada em uma das obras da exposição "Afetossíntese" de 2008[/caption]
Suas instalações propõem conexões entre os espaços. Algumas obras inéditas da artista ficaram em cartaz recentemente na Galeria Baró em São Paulo.
Exposição "Universo em expansão" Galeria Baró, SP/ Foto: Galeria Baró/ Divulgação
Neste vídeo, em inglês, para a mostra "Tempo de Respirar" que Maria realizou na Inglaterra, a comunidade da cidade foi convocada para ajudá-la a realizar a obra.
Hoje não se fala em economia colaborativa, crowdfunding?
O processo criativo da artista para esta determinada exposição trouxe um pouco disso.
Os trabalhos de ambas artistas também se relacionam muito com o universo do 3D (cinema, impressoras).
Referência que apareceu forte nas passarelas brasileiras em roupas cheias de texturas.
Na arte ou na moda... Revolução à vista? Tendência ou resistência?
O tempo dirá.
O que fica.
Quem fica.
Ele sempre diz.
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