o guia ilustrado do orgasmo feminino

Obs: Esse não é o (3 de 3) da série de posts sobre novos "livros" que estou fazendo, mas poderia ser.

Em francês “la petite mort” é a expressão utilizada para orgasmo. Ainda que o biquinho da pronúncia francesa deixe tudo mais charmoso, há um quê sombrio ao denominar o auge do prazer sexual “pequena morte”. Pois é.

Dividindo seu tempo entre Buenos Aires e Nova York a premiada ilustradora argentina Fernanda Cohen, 33, é a autora de “Guía Ilustrada del Orgasmo Femenino” (Ed. Livros del Zorzal, ainda sem tradução para o português).
#bookdodia

Fernanda Cohen - crédito: Horacio Agulla©



No currículo do artista estão desenhos para Gap, Tiffany’s, Coca-Cola, New Yorker, e um trabalho para a premiére do filme “Sex and The City” na Big Apple.

camiseta para GAP
garrafas para Coca-Cola Light

Ilustração para Tiffany & Co

A ideia do livro publicado em 2012 foi impulsionada durante um cruzeiro, sem grandes emoções, com seu ex-marido, mas principalmente por sua percepção em relação às enormes questões, culpas e tabus existentes em relação a sexualidade humana, e principalmente, no que toca ao prazer feminino.

Fernanda Cohen criou “Melba” uma menina-mulher que usa vestido vermelho, cinta-liga e penteado volumoso. Ela encena de um jeito delicado e didático as nuances do prazer feminino ao longo das 110 páginas da publicação.

Aliás, a versão francesa do livro foi chamada de "Pequeno Guia Malicioso do Prazer Feminino" (“Petit Guide Malicieux du Plasir féminin”). “O Guia da Pequena Morte” ia ficar pesado, né?





Por e-mail, desde Buenos Aires, ela respondeu a entrevista a seguir:

Foi seu primeiro trabalho com um tema ligado a sexualidade feminina?
Grande parte do meu trabalho tem uma carga de sensualidade, é inerente ao meu estilo. A série autoral “El água me moja” (“A água me molha”) é onde tal característica ficou mais evidente.

um dos trabalhos da série "El agua me moja"


E como surgiu a ideia do livro?
Em parte surgiu com o despertar natural da minha sexualidade aos meus 20 e poucos anos, e o tédio em um cruzeiro com o meu ex-marido, em 2009, contribuiu. Assim nasceram as primeiras vinte páginas, as quais com a ajuda de Daniel Divinsky (o editor do célebre quadrinho da Mafalda) se extenderam para 110 páginas, ganharam o prólogo do sexólogo Juan Carlos Kusnetzoff e chegaram ao público graças editor Leopoldo Kulesz da Libros del Zorzal.



E por que optou pela abordagem do orgasmo feminino com esse viés mais didático?
Porque é um tema universal e atemporal. A sexualidade humana é algo muito íntimo e intangível, é uma temática que sempre seguirá sendo delicada. Em sua vertente médica é demasiadamente levada a sério, e em geral é tratada como brincadeira, vulgarizada. Me intrigava tratar o tema de maneira séria, contudo, com abordagem leve e elegante, na qual algo tão intagível como o orgasmo pudesse ser visto pelo ângulo mais didático possível.





Você fez uma pesquisa científica sobre o orgasmo feminino para escrever o livro?
Trabalhei as minhas próprias noções do tema, que foram validadas pelo prólogo do Dr. Kusnetzoff para que o livro tivesse a informação 100% confiável. Comecei elencando os diferentes tipos de fantasias sexuais que nós mulheres costumamos ter e depois os coloquei em ordem cronológica para que o orgasmo feminino pudesse ser entendido do princípio ao fim.



Como criou a roupa e o penteado da protagonista do livro?
A Melba nasceu espontaneamente nesse cruzeiro que falei antes. Foi institivo, mas se paro para analisá-la creo que quis expressar algo inofensivo, uma menina, mas que por sua vez tivesse a malícia, expressa pela cinta-liga.

Você viveu em Buenos Aires e em Nova York. Consegue comparar a postura das mulheres e dos homens frente ao tema “orgasmo” nas duas sociedades?
Viva onde viva, eu sempre serei uma mulher argentina. Minha percepção diz que a mulher latino-americana, falando de modo geral, está menos estruturada com a sua sexualidade do que a estadounidense. Por outro lado, há uma obsessão pela mulher latina, a qual se vê nos filmes estrelados pela Salma Hayek, por exemplo. E o homem norte-americano, pela minha experiência, é mais tímido que o o argentino.



Como os leitores receberam o trabalho?
Há pouco tempo recebi um e-mail de um suiço que leu a edição francesa do livro e me agradeceu por fazê-lo entender mais a respeito da sexualidade feminina. Ele disse que se perguntou porque ninguém nunca havia contato nada para ele antes? Assim poderia ter tido outro comportamento com as mulheres. Achei divertido.


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Falando no fetiche pela mulher latina, é importante lembrar que os casos feminicídios no continente são persistentes e alarmantes, e o estímulo da tara clichê pela mulher supostamente “caliente” não ajuda em nada.

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Texto originalmente publicado no Think Olga

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