... com um casaco de gabardine Burberry, que parecia ter forro de lã, era um dos seis ou sete garotos que estavam na plataforma da estação de trem.
Assim o escritor J D Salinger (1919-2010) descreve Lane Coutnell, o namorado de Franny Glass, a protagonista do conto "Franny" publicado em 1955 na New Yorker. Recentemente li o livro composto por este texto e por sua continuação chamado "Zooey", publicado na mesma revista dois anos mais tarde.
#bookdodia |
Salinger, como outros autores estadounidenses como Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald, tem uma incrível verve descritiva que localiza o personagem na cena com precisão e dá ares cinematográficos à leitura. E nada mais lógico do que revelar a roupa do personagem para precisar sua personalidade. Em "Franny e Zooey" Salinger o faz com maestria.
Alguns trechos:
Lane disfrutava da sensação quase palpável de bem estar por encontrar-se em um lugar adequeado com uma garota de aspecto impecavelmente adequado. Uma garota que não era somente extraordinariamente linda, e, melhor ainda, não era do tipo de jersey de cashmere e saia de flanela.
Seu cabelo curto, como ditava a moda, havia sobrevivido bem ao sono.
(...) com uma mão, ajeitou o robe, de corte masculino feito em seda bege com um bonito estampado de rosas.
Usava uma jaqueta azul marinho e uma boina que tinha quase o mesmo tom de vermelho que a manta da cama no quarto de Van Gogh em Arles.
O autor estadounidense ficou conhecido pelo livro "O Apanhador no Campo de Centeio". O livro conta a história de Holden Caulfield, um adolescente de 17 anos, em crise de identidade. O escritor conseguiu personificar o jovem em crise de identidade do pós-guerra. Fez tanto sucesso que o autor pirou e passou a viver isolado, publicando textos somente quando queria.
De tanto sucesso ele foi capa da Time em 1961 |
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Inspirada na Franny escrevi um texto ficcional que reproduzo a seguir... mas antes aproveito para fazer propaganda do meu outro blog o "outras coisas pra ler". Desde maio estou postando minhas experimentações literárias, por assim dizer, produzidos para as aulas de roteiro de cinema que estou frequentando aqui em Buenos Aires. Por essas, e por outras, tô deixando o blog original meio de escanteio. A moda anda me inspirando de outro jeito ;)
"O Espelho de corpo inteiro"
Em um dos corredores da residência estudantil três garotas se agrupavam em um entusiasmado e saltitante círculo. Com ar superior, uma delas exibia para as outras duas o rosto de Elvis Presley impresso na capa compacto “Mystery Train”, recém lançado.
–Deixa eu ver, Sharmon! – gritou uma das componentes do grupo.
Com a boca torcida e olhar ligeiramente colérico, Franny Glass ouviu e observou a cena encostada na porta do seu dormitório. Ela tateava o conteúdo da sua bolsa com o olhar fixado no rastro do som de suas colegas. Sacou uma chave e com ela abriu a porta do quarto à sua frente, deixando a mala uma mala de viagem do lado de fora.
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