Sobre as roupas...

divagação rápida e sem figura para quebrar o jejum record do blog... Voltei.


Há muitos, e muitos anos atrás, as roupas eram deixadas no testamento. Uma família listava propriedades, jóias, casacos e vestidos. Um sobretudo durava algumas gerações. Quando o dinheiro estava em falta ele poderia ser penhorado, como um anel de ouro hoje em dia .

Numa sociedade da roupa, pois, a roupa é tanto uma moeda quanto um meio de incorporação. À medida em que muda de mãos, ela prende as pessoas em redes de obrigações. O pode particular da roupa para efetivar essas redes está estreitamente associado a dois aspectos quase contraditórios da sua materialidade: sua capacidade para ser permeada e transformada tanto pelo fabricante quanto por quem a veste; e sua capacidade para durar no tempo. A roupa tende pois a estar poderosamente associada com a memória ou, para dizer de forma mais forte, a roupa é um tipo de memória. Quando a pessoa está ausente, ou morre, a roupa absorve sua presença ausente. 

Faz um tempo li esse simpático livrinho chamado “O Casaco de Marx” escrito por Peter Stallybrass (Editora Autêntica), de onde extrai o texto acima. Ainda que o autor não tenha pensado no advento frenético do fast-fashion, vale mais lembrar que todo mundo carrega com carinho uma peça que foi da avó, do avô, ou de ascendência mais antiga, né? Aí o mundo material se torna o afeto. Deixa de ser matéria e passa a ser memória.

#bookdodia


Uma mala de viagem, por exemplo, dependendo do destino, e do seu objetivo, tudo que você precisa são roupas que aptas ao descarte sem remorso. Porém, em outras jornadas é preciso levar peças que façam você se sentir em casa. 

Que poderosas são as roupas, não? Mudam os sentimentos num simples fechar e abrir de botões. 

Voltando ao livro, fala precisamente da relação louca da roupa, como memória, matéria e mercadoria. E conta como Karl Marx,  também no papel de pai, vivia penhorando seu casaco para dar de comer a família, e, claro, para continuar escrevendo suas teorias: Ontem penhorei um casaco que remontava a meus dias de Liverpool, a fim de comprar papel para escrever, confessou. 

Pois é, quando uma situação é marcante lembramos da roupa que estávamos usando, ou do traje que outra pessoa que chamou atenção portava.

... Nas estradas do sul da Etiópia, onde o coração da África pulsa, as crianças de uma das tribos locais abordam os carros dos turistas falando “Hello, t-shirt” (Oi! Camiseta). Lá a roupa é uma moeda de troca, esmola, ou, inocentes do poder das roupas, um desejo inconsciente de construir uma memória diferente da que lhes já está traçada. 

Comentários

  1. Belo texto. Estava achando falta das suas postagens.

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  2. Hoje no blog tem post novo, incríveis dicas de moda e beleza, faça uma visita e a companhe tudo que rola por lá.
    Beijos, espero sua visita.
    www.meuestilogugafernandes.com.br

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  3. Oi TEXTO SIMPATICO , espero que voce passe um carnaval divertido. Se durante o dia o momento surgir passe pelo blog www.otmjoias.com.br/blog para ver o post AGRADAVÉL DIVERSÃO .
    Desejo-lhe que tenha um ótimo dia .
    www.otmjoias.com.br/blog

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  4. Acabei de descobrir o seu blog e adorei o seu artigo. Realmente é interessante pensar na diferença entre o fast-fashion e a moda de antigamente. Eu particularmente gosto de fazer um mix no meu guarda-roupas com peças estilo Zara que já não duram mais do que uma estação (até porque a qualidade não é lá essas coisas) com peças especiais de grande marcas. Lógico que mesmo nas grandes marcas tem muita coisa estilo fast-fashion, precisa ter o olho certo. Quem sabe assim minhas netinhas virão fuçar no meu armário no futuro? É claro que as roupas boas custam mais, mas de repente com uma visitinha a um outlet dá para economizar um pouco. Eu moro aqui em Florença, na Italia, e perto da minha casa tem o The Mall. A cada final de estação eu passo lá para conferir as ofertas (liquidações) do outlet. Com um pouco de sorte dá para fazer bons negócios. :)

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  5. Muito bom o texto, e de fato acontece msm de associarmos as roupas à determinado momento de nossas vidas sejam bons ou ruins! Falando em roupas, quem gosta de roupas mais em conta, encontrei um post bem legal, vela a pena, segue o link: "Frete Grátis Dafiti"

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