"Anunciação", na Bíblia, é a notícia que o Arcanjo Gabriel traz à Virgem Maria, sobre seu magnânimo destino. "Anunciação" também é o nome de uma música que começa assim: “Na Bruma Leve das paixões que vêm de dentro”. É do Alceu Valença. Na Oscar Freire, algumas carpas nadam na vitrine da loja cujo nome não foi inspirado na canção do músico pernambucano e nem na mãe mais famosa do mundo. “Comecei a marca com outro nome, como já tinha outra empresa usando coloquei ‘Anunciação’, mas acho ótimo ter uma música com o nome da grife”, diverte-se Maria Elvira Crosara, 45, estilista e dona da Anunciação, criada em Goiânia em 1988.
Nascida em Porto Alegre, de família mineira e radicada em Goiás, a designer comanda a grife que tem como marca peças atemporais e muito estampadas. A fiel escudeira dos desenhos é Catalina Estrada, ilustradora colombiana estabelecida em Barcelona.
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Graças as Catalina, o trabalho de Elvira chamou a atenção da socióloga espanhola Laura Eceiza e ela é um dos 69 estilistas entrevistados no livro “Altas of Fashion Design” (Ed. Rockport, 2008). Isabela Capeto, Karla Girotto e Inácio Ribeiro (da Clements Ribeiro) são os outros representantes nacionais da lista.
A seleção da socióloga espanhola é notória porque não prestigia somente os figurões mais que manjados da moda, ainda que o livro dedique espaço mais que merecido para Alber Elbaz, Margiela e Karl Lagerfeld. É bem estimulante ouvir sobrenomes fora do circuito Helena Rubistein. Por lá é possível encontrar entrevistas com designer de moda vindos da Ásia, da Escandinávia, e de Goiás. O objetivo do livro é esse mesmo: ir além dos epicentros da moda. Variedade é sempre bem vinda. Afinal, quem viveu no planeta terra nos últimos meses deve estar cansado das listras tropicais da Prada e do color block da Gucci. Tendências atualmente ubíquas nas vitrines brasileiras.
Por Skype Elvira falou sobre a Anunciação ao Moda pra Ler:
Em sua entrevista no livro “Atlas of Fashion Design” você recomenda o livro “The Guatemala Raibow” do fotógrafo Gianni Vecchiato à todos os estilistas. A Catalina Estrada é colombiana e tem desenvolve um trabalho muito colorido. Você considera que a marca tem uma carinha latina?
Acho que sim, mas não é pensado. É uma interpretação de tudo que observo.
Você costuma viajar para países latinos para fazer pesquisa de coleção?
Você acredita que nunca fui pra Guatemala, nem pro México? Sempre penso nesses países, mas acabo indo para outros lugares. Não faço viagens para pesquisar coleção, mas não tem jeito... De uma forma ou de outra quando sempre volto com alguma ideia para a marca. Viajamos, eu e minha família, de férias pra Austrália. A última coleção tem alguma coisa do que vi por lá certamente.
verão 2012
Como começou sua história da moda?
Fui estudar joalheria em Florença. E comecei a ter muito contato com moda e comprar muitos livros sobre o assunto. No meio do curso cheguei a pensar a mudar de área, voltei ao Brasil já pensando em retornar à Itália para estudar moda. Comecei a criar algumas peças e acabei postergando a viagem. Esse período coincidiu com a abertura do curso de moda na Universidade Federal de Goiás e onde me formei na primeira turma.
Catálogo em vídeo para o inverno 2011
A marca tem um estilo bem definido, né?
Sim. O público reflete isso. As clientes são de todas as idades. São pessoas que buscam esse estilo. Fui criada no meio de avó costurava e bordava. Esse apego pelo trabalho artesanal está no sangue.
E a parceria com a Catalina Estrada como surgiu?
Sempre gostei de estampas. Uma amiga me apresentou o trabalho da Catalina (Estrada) e amei. Entramos em contato e tudo começou em 2007. Desde então se tornou colaboradora constante. Estou acostumada com ela.
estampa e vestido verão 2012
Você está aqui no Brasil, ela na Espanha, como desenvolvem o trabalho?
Trabalhamos basicamente trocando e-mails. Eu escrevo em português, e ela me responde em espanhol. Nos expressando em nossas respectivas línguas fica mais claro o que eu quero e o que ela quer. Ela desenvolve duas ou três estampas por coleção. Desmembro os desenhos, com o consentimento dela, claro, e aplico de diferentes formas nas peças.
Desenvolver estampas exclusivas no Brasil é um processo caro, né?
A Catalina ficou minha amiga então ela cobra menos (risos). É super difícil trabalhar com estampa exclusiva. O desenvolvimento é muito caro. A diferença de preço entre uma peça estampada e uma lisa é muito grande. Limitamos em 50 o número de cada peça estampada.
verão 2011
Você tem sua confecção em Goiânia. Encontra alguma dificuldade por estar baseada fora do eixo Rio-São Paulo?
Aqui em Goiânia é muito bom para trabalhar. Temos um grande polo produtivo. As confecções daqui são mais populares, mas tem muita mão de obra. A internet facilitou muito as negociações com clientes, e além disso estou sempre em São Paulo porque a nossa única loja fica na Oscar Freire.
A loja tem uma vitrine bem diferente com manequins suspensos sob um espelho d´água com carpas. O projeto é do diretor de arte Gringo Cardia, como você teve a ideia de contratá-lo?
Eu tinha visto o trabalho dele em umas capas de discos da Maria Bethânia, e ele é arquiteto, então primeiro sondei ele. Num primeiro momento o projeto não aconteceu porque estava envolvida com a produção de uniformes. Quando decidi me dedicar só à Anunciação resolvi retomar a conversa com o ele. Queria ter uma loja-conceito. As carpas eram só para a inauguração, mas acabaram ficando.
O que te inspira ultimamente?
Dança. Andei pesquisando muitos figurinos de balé. Acabei de criar o figurino para a duas coreografias da companhia Quasar Jovem (filhote da prestigiada Quasar), "Pomar” & “Por si mesmo" (apresentados nos dias 01 e 02 de outubro em Goiânia). Em “Pomar” a referência foi o quadro “Jardim das Delícias Terranas” do (Hieronymus) Bosch. Minha pesquisa foi mais nos figurinos de dança contemporânea.
....Continua. No próximo post, entrevista com a ilustradora colombiana Catalina Estrada.
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