A grife Tufi Duek tem a assinatura do estilista Eduardo Pombal. Nessa temporada primavera-verão 2011/201 ele se inspirou em elementos da cultura indígena. É possível reconhecê-los com certa facilidade na coleção: grafismos da pintura corporal, da cestaria; e a plumária, diluída na cartela de cores fortes.
No GNT Fashion que foi ao ar no dia do desfile, ele contou que foi na Première Vision, a famosa feira de tecidos de Paris, lá escolheu sua matéria prima, voltou para o Brasil e pensou em associá-la a referências que remetessem aos índios.
Fotos: Modaspot/ Agência Fotosite©
Foi para fora e olhou para dentro. Com o Brasil na crista da onda mundial, sinto que é um processo que anda acontecendo cada vez mais. Nessa temporada a "inspiração Brasil" ficou evidente em algumas coleções que pretendo listar nos próximos posts.
Não considero esse movimento como um sentido obrigatório, mas é certamente bem-vindo, uma vez que a moda, sempre foi, e mais do que nunca, é, portadora de signos e criadora de desejos. Em outras palavras, para construir a tão desejada moda autoral brasileira, precisamos querer, conhecer e reconhecer o Brasil.
Se tomarmos o exemplo da arquitetura, quando os nomes de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa começaram a ecoar mundo a fora havia uma vontade de ruptura e de afirmação da identidade nacional. Mais ou menos na mesma época, na música, os suaves acordes da bossa nova e a celebração da boa vida carioca nas letras, eram a trilha sonora do país que queria dar certo. Conquistou os jazzistas americanos.
No século XXI a moda pode ser o porta-voz imagético ideal. Por quê?
Longe de mim dar uma resposta definitiva, mas arrisco alguns palpites.
- A moda é rápida como a velocidade da internet, e das relações interpessoais no mundo atual. Hoje, trocar de amigos, de namorado(a) e de trabalho como "quem troca de roupa", é comum. Se isso bom? Aí é outra história, mas a moda é uma boa metáfora.
- O composê de roupas que você escolhe todo dia ao sair de casa é parte importante de sua expressão, e como a web revelou que todo mundo adora aparecer é importante pensar na imagem que será "tagueada".
- Assim, com o individual valorizado pelo coletivo, construir uma imagem de moda forte e consistente, só contribui com a imagem global do país.
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pra ler ...
Eduardo Pombal disse que usou fotos dos índios do Xingu como referência para criar a coleção. A reserva indígena que leva o nome do rio amazônico é a maior do Brasil. A Gisele Bundchen e o Leonardo de Caprio foram visitar uma tribo de lá, lembram? (Perdão antropólogos queridos, preciso dar uma referência fashionista aos leitores !!!). Para se ambientar no assunto recomendo super o livro "Xingu", da fotógrafa Maureen Bisilliat e dos irmãos Orlando e Claudio Villas-Bôas. São fotos lindas feitas nos anos 80. O exemplar que tenho era da minha avó e tem uma dedicatória da fotógrafa que vale a pena ser compartilhada: "imagens de um povo que ainda resiste. Até Quando?". De lá pra cá a situação só piorou.
Ah! Olha o incosciente coletivo: "Xingu, O Filme", dirigido pelo Cao Hambuguer, estreia logo mais e conta justamente como os irmãos Villas-Bôas criaram o Parque Indígena do Xingu em 1961.
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Neste vídeo da Folha de S. Paulo a fotógrafa relembra o trabalho no Xingu, que resultou no livro:
Achei muito bonito. Saudades da vovó.
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