crescendo, com C

Esse domingo a Folha de S. Paulo publicou duas materinhas interessantes que refletem o comportamento da classe C. A primeira sobre o aumento expressivo na venda de esmaltes (realmente está uma febre entre a mulherada de todas as classes) e a segunda sobre o crescente interesse por decoração.

Ano passado já tinha publicado por aqui uma menção a outra a matéria a respeito da classe C que é a atualmente a coqueluxe do governo, das empresas e dos marqueteiros.

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Mercado de esmaltes cresce 35% no primeiro semestre com lançamento de novas coleções
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Apaixonada por cores, a arte-terapeuta Mônica Araújo, 43, costumava misturar esmaltes para obter novos tons e driblar a monotonia dos tons de rosa, vermelhos e brancos disponíveis.

Desde que a grife francesa Chanel decidiu apostar, nos últimos anos, em lançamentos de cores fora do padrão habitual, como o verde pistache "Jade" ou o azul marinho "Blue Satin", o esmalte se converteu não só em objeto de desejo como em acessório de moda, com o lançamento sucessivo de novas cores.

Hoje, Araújo conta com uma coleção de mais de mil esmaltes --de todas as cores, com variações cintilantes, foscas, neon e, a mais recente novidade, holográficas.

Ela compartilha as novas compras no blog 9ml.com.br, nome inspirado no volume disponível em cada embalagem. "Planejo a roupa para o dia e decido qual esmalte usar."

Os fabricantes rapidamente aproveitaram a onda e o mercado brasileiro vive hoje uma "febre de esmalte": as vendas do setor cresceram 35% no primeiro semestre, de acordo com a Nielsen, e as empresas estão pagando horas extras e comprando embalagens no exterior para dar conta da demanda.

As vendas de janeiro a junho somaram R$ 213,48 milhões. Em São Paulo e mais oito municípios do Estado, a alta nas vendas chega a 63%.

"O aumento da renda, impulsionado pela classe C, e a mudança de hábito da consumidora explicam o crescimento. O país tem muito potencial de consumo em produtos de higiene e limpeza. Hoje, uma consumidora chinesa usa mais de 40 tipos de creme para a face. A brasileira, apenas um", afirma Arthur Oliveira, da Nielsen.

O Brasil é hoje o segundo maior mercado em vendas de esmalte, atrás apenas dos EUA, de acordo com dados da consultoria Euromonitor.

Desde março, quando chegou ao mercado a coleção flúor, lançada na São Paulo Fashion Week, a Impala, marca da Mundial, registra demanda acima do esperado. A empresa estendeu o segundo turno até as 2h da manhã e abriu novas vagas.

"A cadeia de fornecedores não estava preparada. Agora a indústria nacional corre para aumentar a disponibilidade de vidros, tampas, e o mercado está recorrendo a outros países", afirma Luciana Marsicano, diretora de Marketing da Mundial.

Desde o segundo semestre do ano passado, a Colorama, da L'Oreal, compra parte das embalagens na Índia. O número de coleções saltou de três para seis a sete/ano.

Renata Kameyama, diretora de Marketing da Colorama, destaca que além de novas cores, a empresa investe na sofisticação do produto, com o relançamento da linha única camada, em que não é preciso aplicar o esmalte mais de uma vez.

A fábrica da Risqué, em Taboão da Serra (SP), opera em três turnos, 24 horas/dia para atender a demanda. A empresa foi comprada em 2008 pela Hypermarcas e espera faturar R$ 282 milhões neste ano, o dobro do patamar anterior à aquisição.

A diretora-executiva de Planejamento, Gabriela Garcia, destaca o aumento dos investimentos em publicidade. No ano passado, ela lançou campanha na TV com a atriz Mariana Ximenes. "A Hypermarcas é o segundo maior anunciante em bens de consumo no país, só perde para a Unilever", disse.

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Prédio na favela agora tem decorador e móvel planejado

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VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE SÃO PAULO

Por dentro, o apartamento poderia estar em qualquer bairro de classe média: tem teto de gesso rebaixado, luz indireta, piso de porcelanato, luminárias assimétricas, paredes texturizadas, armários e estantes planejados e espelhos por todo lado.

Por fora, vê-se que ele está na favela de Paraisópolis, a segunda maior de São Paulo, num conjunto de habitação popular da prefeitura.

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Com a expansão da classe C, estrato da população com renda de três a dez salários mínimos, moradores que até outro dia viviam em barracos têm contratado arquitetos ou se inspirado em revistas de decoração para criar ambientes espelhados nos padrões de consumo da classe média.

Em dois tempos, a tendência ganhou o nome de Favela Cor, uma alusão à Casa Cor, famosa feira de decoração de arquitetos-estrela.

NA MODA

Há 20 anos, a bilheteira de teatro Valmisa Gonçalves da Silva coleciona revistas de decoração. Hoje, o acervo está em 50 exemplares porque os números mais antigos, fora de moda, ela joga fora.

Com as edições, Valmisa aprendeu a pendurar os quadros na parede (de tamanhos diferentes e de disposição assimétrica) e decorou o quarto da filha de cinco anos com motivos da boneca Barbie.

"Colocamos piso de cerâmica, rebaixamos e engessamos o teto, pintamos e texturizamos as paredes e trocamos os pontos de luz", diz.

Quando anda pelas ruas da favela de Heliópolis, onde tem um projeto de habitação popular, a pergunta que o arquiteto Ruy Ohtake mais ouve dos moradores da região é: "O piso fica melhor com cerâmica ou porcelanato?".

"É até compreensível que isso aconteça. Quando querem melhorar de moradia, o apelo é pelas revistas de decoração. É natural que se espelhem na próxima classe social", afirma Ohtake.

As dúvidas eram tantas que ele resolveu inovar: montou um apartamento decorado, igualzinho àqueles dos estandes das construtoras, para inspirar os moradores a montar a nova casa.

"Ficaram entusiasmados com o apartamento decorado e dizem que jamais teriam aquelas ideias sozinhos", completa Ohtake.

Pelo Plano Diretor, todos os apartamentos de conjuntos habitacionais da prefeitura têm, no máximo, 50 m§§2§§.

Na favela Nova Jaguaré, o arquiteto Marcos Boldarini, autor do projeto de urbanização daquela região, diz que os moradores pedem as plantas com metragem para comprar móveis planejados.

"Há uns requintes de decoração muito interessantes. Vi um porcelanato preto e não pude comprar para a minha casa", afirma Boldarini.

Curiosamente, raras são as paredes pintadas de branco. "São cores berrantes, isso é a tradução de um outro padrão estético. Os sofás são enormes, nem cabem naquele espaço. É um reflexo do aumento da renda e de mais linhas de financiamento a juros baixos", diz.

CLASSE C

O interesse em torno da decoração para a classe C cresceu tanto que até as lojas de material de construção, como a C&C, têm hoje arquitetos à disposição dos clientes para criar ambientes.

Revistas de decoração, antes voltadas para o público das sofisticadas lojas de móveis da al. Gabriel Monteiro da Silva, hoje têm edições inspiradas no comércio de crediário a perder de vista, como o das Casas Bahia.

Aliás, pobre e popular são palavras vetadas. "Nem pensar, é perder clientes", diz a arquiteta Rafaela Albuquerque, que já decorou apartamentos em Paraisópolis. O valor cobrado pelos decoradores não passa de R$ 2.000.

A prefeitura diz já ter percebido que o investimento em arquitetura faz com que os moradores se sintam cada vez mais donos do lugar e isso diminui a evasão.
O fenômeno já chegou às faculdades de urbanismo e tem pautado teses de doutorado dos arquitetos.

Comentários

  1. Realmente os esmaltes de cores diferentes cairam no gosto da mulherada, ninguém quer estar fora da moda!

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