o benefício da permanência

proposta da IN.USE

Essa história de reaproveitamento de tecido tem como ícone máximo as colchas de patchwork feitas por muitas vovós. Minha bisa era avant-garde. Tá. Mas quando o assunto é roupa está no ar uma sensação de transformar o que já foi feito para não deixar resíduos que vão acabar poluindo o solo em algum lixão do planeta.

Verão 2010, Isabela Capeto tingiu tecidos encostados e deu a eles uma cara nova
Crédito : Márcio Madeira / lilianpacce.com.br


Inverno de 2008. A Cavalera, sob direção criativa de Marcelo Sommer, usou camisas antigas da marca e as transformou em vestidos e saias. Crédito: divulgação


No Pense Moda a Marroussia Rebecq contou como desenvolve as coleções da Andrea Crews a partir de peças pré-existentes . Por aqui já falei da By Mutation, marca meio brasileira, demi-francaise, que faz acessórios com retalhos.

E mais uma iniciativa legal surge nessa direção, é a IN.USE, grife feitas pelas uruguaias Ana Piriz e Agus Comas. Agus mora em São Paulo e Ana em Montevidéu. (A Agus já apareceu por aqui )


poster do repertório da marca

A matéria prima vem dos dois países e as meninas usam todas as ferramentas gratuitas da internet para a criação em dupla as peças. A primeira coleção da marca estará à venda na novíssima loja da estilista Fernana Yamamoto que abre no próximo sábado, dia 28 de novembro, na Vila Madalena em São Paulo. Reafirmando ainda mais o bairro como reduto de ações interessantes de moda.

O que me intriga é o processo criativo a partir de formas pré-concebidas. Considero que tem tudo a ver com o momento em que vivemos, de retwitters, citação, curadoria. Em que o mais interessante é como cada um interpreta a informação e não sua origem. E a Agus me contou um pouquinho como funciona no caso da IN.USE.

Como vocês tiveram a idéia do projeto?
A idéia surgiu como um questionamento a quantidade de "desperdício" que se gera cada temporada nas marcas de moda. A partir de nossa experiência trabalhando em marcas de moda, começamos a pensar o que poderia ser feito com essas peças que não são vendidas. Projetamos a coleção a partir da combinação destas peças novas-velhas. Velhas porque são de temporadas passadas. Novas porque nunca foram usadas. A peça nova herda algumas características da matéria prima como acabamentos, etiquetas, aviamentos e perde totalmente sua morfologia original.


coleção verão 2010 IN.USE


Como conseguem a matéria prima para suas coleções?
Compramos estoques de coleções passadas de diferentes marcas. Peças que já cumpriram seu ciclo, que estão "mortas". Já passaram pela liquidação e pelo bazar e ainda não foram escolhidas por ninguém. Agora também estamos fazendo uma mini coleção para uma marca de tricot do Uruguay (Manos del Uruguay). Usando o estoque deles, peças e também aviamentos. Também é bem legal trabalhar dentro do repertório de uma marca.

Na In Use você parte da criação pela matéria prima, e não ao contrário como em geral acontece. É isso? Na prática como funciona? Como é o processo criativo de vocês duas?
O fato de morarmos em países diferentes define bastante a metodologia. A Ana mora em Montevidéu e eu em São Paulo. Trabalhamos pelo skype com as câmeras ligadas. Nos comunicamos por vídeo conferencia e também tirando fotos e desenhando. Usamos ferramentas da internet, como flickr para subir as fotos e google docs para as planilhas e arquivos de texto. Sim, a criação parte totalmente da matéria prima.
Começamos trabalhando com moulage no manequim e nos nossos próprios corpos. Exploramos as diferentes possibilidades de usar uma peça, sem respeitar sua função original. Por exemplo, colocamos uma calça nos braços, no quadril, no peito, etc. Quando uma determinada forma ou idéia é definida, começamos a identificar a formula para chegar nesta receita. Cada receita pode ser reproduzida com varias combinações, o aspecto da peça final dependerá das características da sua matéria prima. Com essa peça-piloto pronta tocamos as produções.
Já temos um repertório de formas possíveis com certas peças, mas ao encontrarmos um novo estoque trabalhamos em cima das peças e surgem novos caminhos. É bem um caso de pensar com o corpo, em geral chegamos a situações difíceis de alcançar com um desenho. Ás vezes dá um nó no cérebro. É muito divertido.



fotos Dimitre Lima - http://dmtr.org/

Cada roupa é exclusiva? Isso deixa o produto final mais caro? Ou a matéria prima pré-determinada deixa o produto final mais barato?
Sim, cada roupa é exclusiva. Em alguns casos achamos estoques com algumas peças repetidas, isto produtivamente fica muito bom. Mas na coleção não tem mais de cinco peças iguais. Elaborar uma peça a partir de outras é um pouco mais trabalhoso do que partir do tecido do zero, mas como estamos falando em produções de poucas unidades, o preço não é muito mais alto. O preço final depende muito do preço dos estoques que achamos. Temos encontrado marcas que consideram que os estoques já foram amortizados e são matéria prima parada e os vendem por pouco fazer fazê-los girar. Estes são os casos legais de trabalhar.
Mesmo sendo praticamente artesanais, as peças têm uma cara industrial dada pelos acabamentos, costuras, etc da peça original. Isto faz com que as peças não fiquem com cara de reciclagem. Procuramos que, mesmo sendo peças recicladas, tenham mais a nossa cara e cara de peça de design.



coleção verão 2010 IN.USE



É a primeira coleção? Como é essa primeira coleção?

Nesta primeira coleção exploramos muito peças feitas em tecido plano. As camisas (masculinas principalmente) são matéria prima ótima para criar outras peças. Também trabalhamos bastante com calças. Conseguimos chegar em varias modelagens interessantes partindo delas. Cada peça tem seu tag com o desenho da receita usada nela.

***
Na Vila Madalena tem outro endereço que ainda não conheço e que tem bem a ver com essa história de usar que é o Super Cool Market.

Em uma das minhas visitas ao brechó Juisy By Licquor lembro que o comprador ganhava um broche com os dizeres “Enjoy Sustainable”. Estimulando as compras em brechó como meio de economizar matéria prima. Fui ao blog do Juisy e não achei nada sobre a campanha, mas encontrei essa dica valiosa (além dos modelitos altamente desejáveis).
O livro chama-se:



“Born-Again Vintage: 25 Ways to Deconstruct, Reinvent, and Recycle Your Wardrobe”. Um guia para customizar seu guarda-roupa. Louca para ver ao vivo.

Comentários

  1. Olá, Laura, muito bom seu post, aliás, o seu blog, "moda para ler" é uma proposta diferenciada desse meio, em que os blogs andam meio vazios, ter blog sobre moda é o novo cool (na verdade não tanto), mas ninguém se propõe a realmente discutir a coisa...fica todo mundo repetindo fotos, imagens de celebs, looks e afins...isso me cansa...

    Sobre o post, a proposta do reaproveitamento, da sustentabilidade agora, cada vez mais, será uma máxima...afinal, as pessoas estão cada vez mais conscientes do que compram, do que consomem...faz tempinho escrevi post sobre algo do tipo, embora ainda de modo meio superficial, mas a sustentabilidade definitivamente é um tema que me interessa, se puder, olha lá:
    http://whatisthenewcool.blogspot.com/2009/05/moda-arte-e-sustentabilidade.html

    enfim, já estou te acompanhando, espero que possamos trocar idéias.
    ;)

    bjs

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  2. Oi gente, comecei um blog novo. Gostaria da opinião de vocês, já que tens um blog muito bacana! ;)

    Grata, Rose Rolim

    http://roserockabilly.blogspot.com/

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  3. Muito interessante seu blog, totalmente off da mesmice de outros blogs de moda, adorei!
    Nossa, reaproveitamento dá cada idéia, tiramos já da própria reciclagem dos materiais domésticos que já inovam imagine roupas!!
    Adorei seu blog.
    Beeijos

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  4. Blog que foge do comum! Muito bom seus posts e as fotos essão lindas!

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  5. adorei os seu posts
    sem palavras
    vc usou a cria tividade isso é muito bom
    visitem o meu blog:


    http://mundamoda.blogspot.com/

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