Pense Moda Dia 1 - o biquíni e a planilha

Passei a manhã da segunda no Pense Moda. Enquanto a chuva torrencial deixava São Paulo caótica, as discussões abordavam outro grande problema do nosso país: a busca da identidade de moda brasileira.

O dia começou com a consultora da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), Geni Ribeiro apresentando essa questão no âmbito econômico e estratégico. O que me fez pensar que se tem uma identidade brasileira que as confecções nacionais são adeptas é “o jeitinho brasileiro”. Não estou falando de tirar vantagem de tudo, mas sim de sempre apagar o fogo em vez de se planejar para evitar o incêndio.

Algumas idéias apresentadas:

metodologia ultrapassada
O Brasil ainda está no primário quando o assunto é visibilidade no mercado internacional. Uma das principais observações da executiva é em relação ao método aplicado “há 40 anos” por boa parte das confecções do país. Trata-se da fórmula viagens internacionais que resultam em reinterpretações, ou se preferirem cópias. Ela comenta a obrigatoriedade da visita à loja da Prada.

“Aí tem gente puxando fiozinho para trazer para cá e pedir para alguma tecelagem desenvolver. As confecções mais ricas ainda dão a verba para o seu profissional de desenvolvimento comprar a peça, que tem que ser do tamanho da dona da empresa, claro”.

Essa forma de agir acaba gerando investimentos em produtos que nem sempre correspondem à realidade brasileira. Forçar a tendência é errado. Deixa o consumidor sem opção e limita a criação.

falta de estratégia
O principal problema das confecções brasileiras é a falta de mentalidade estratégica. Geni aponta a apresentação da coleção como exemplo. As empresas, muitas vezes, fabricam um mix de produtos tão grande que faz o cliente (atacado principalmente) ficar sem foco na hora de escolher. Não há uma coordenação entre número de parte de baixo e de cima. “Copiam a blusa que está usando na novela”. Em outras palavras, não há definição de público alvo.

a difícil arte de mudar
Mudar essa forma de pensar exige, segundo ela, .sair da zona de conforto. E aponta o momento Obama como um novo horizonte para mudanças. E anuncia a África como tendência. Nós brasileiros temos todos os instrumentos, principalmente musicais, para tirar proveito dela.

A consultora acredita que moda é acima de tudo é informação e que os compradores estrangeiros quem vem ao Brasil através das parcerias da ABIT esperam comprar coisas originais e se decepcionam.

O Brasil tem muitos clichês, “muitas histórias para contar” e até da favela dá para tirar inspiração.

Ela cita os Irmãos Campana e a Cadeira Favela e a brasilidade ora mineira, ora sertaneja, de Ronaldo Fraga, sempre ligado na realidade brasileira.

Outras empresas menos famosas que trabalham com artesanato, se bem orientadas, podem dar certo. Ela citou o exemplo de sucesso de uma confecção de bolsas chamada “1001 retalhos” . Com orientação conseguiu exportar.

artesanato nordestino como toy art
No final ela compara um casal de cangaceiros nos moldes do artesanato singelo do nordeste com um conjunto de toy art de pandas. Alegando que os ursinhos Made in China causam menos estranhamento do que o casalzinho de barro, concluiu questionando - “o quanto deixamos de olhar para nós mesmos?”.

quem lidera a mudança?
Geni aposta nos jovens jornalistas para as provocações.






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O segundo evento do dia foi um debate que reuniu a consultora de moda Glória Kalil, o cineasta Heitor Dhália, o colecionador de arte Waldick Jatobá e o arquiteto Marcio Kogan.

Kogan abriu os trabalhos apresentando um projeto fictício de arquitetura e humor. Lepont Gucci. Uma sátira ao higienismo da elite brasileira, principalmente das grandes metrópoles. O conceito você lê aqui.

O mediador, o editor de moda da Folha de S. Paulo Alcino Leite Neto, perguntou aos convidados qual o denominador comum entre os expoentes brasileiros de suas respectivas áreas.

Falou-se de Oscar Niemeyer, Glauber Rocha e o Cinema Novo, Modernistas de 22, Tropicália. O Niemeyer faz 101 e continua firme. Outro exemplo mais contemporâneo foi a artista plástica Beatriz Milhazes que apesar de ter um pé nos anos 70 já tem quadro avaliado em 1 milhão de dólares.

A conclusão foi que essa identificação da cultura brasileira fez sentido em um momento histórico, com as condições ideais de pressão e temperatura, bem diferentes de hoje. Aquecimento global, né? A chapa tá esquentando!
E a moda brasileira, tadinha, começa a se desenvolver num mundo globalizado competitivo.

amiguinhos
O cinema e a moda são indústrias grandes e onerosas que têm muita coisa em comum, a começar pela dificuldade de alcançar o mercado externo. Por isso Glória e Heitor foram o centro das atenções.

O cinema brasileiro acaba caindo na fórmula do eixo favela-dura realidade nordestina. E a moda brasileira fadada ao eterno verão com gatinhas sensuais com pouca roupa e muito colorida. Ou seja, duas realidades pouco democráticas para o resto do mundo.

Glória Kalil contou que questionou o jornalista Robb Young do IHT sobre a identificação de um biquíni brasileiro em uma arara com modelos de outros países. Ele respondeu que a identificação não é fácil. Assim, o Brasil é visto como um pacote. E para vender o famigerado estilo de vida brasileiro é preciso uma marca forte. Se tem duas empresas que já começaram a trilhar esse caminho elas são H.Stern e Havaianas na opinião da consultora.“No Brasil não há expectativa de produto de luxo”, revela. “Na H.Stern primeiro eles mostram as jóias, depois contam é um produto brasileiro. Já com a moda praia acontece o contrário”. E continua: “sem marca não tem produto. Uma marca forte agüenta o erro”. Construir uma marca forte requer trabalho duro.

Heitor Dhália considera que ainda não nos esforçamos o suficiente de modo geral. “Acreditamos muito da criatividade, mas só ela não basta”. Por outro lado se fizermos bem feito podemos ser a referência. O cineasta contou a história do Federico Fellini que começou olhando para filmes franceses, criou uma nova linguagem e passou a influenciar uma nova geração.

Como bem disse o Alcino no final buscar agora a resposta definitiva para a questão da identidade brasileira é besteira. O que se viu no debate foram caminhos para sair da mesmice, muito bem relatada, aliás, na palestra da consultora da Abit.

Glória terminou sua palestra com um texto de Caetano Veloso publicado na Vogue em 2003.

Quem não se orgulha de Gisele? Quem não sente um friozinho na espinha e um calor no coração quando vê a concentração de beleza que há em seu rosto? Que grande mistério para o mundo é a evidente brasilidade de Gisele! Com esse prenome francês e esse sobrenome alemão, com esses cabelos alourados e esse tipo caucasiano, Gisele é tão brasileira quanto Garrincha. Quem conseguir explicar isso terá explicado o Brasil. E como se explica que essa que é uma das mulheres mais lindas que o homem já conheceu tenha um ar tão amigo? Quem não está apaixonado por Gisele? E quem - estando apaixonado por ela - não se espanta que uma deusa dessas não inspire medo? Ela não parece uma noiva careta nem uma chave-de-cadeia. Ela - o rosto, a pele, o corpo de Gísele - é uma permanente promessa de felicidade.

Em tempos globalizados, a ampulheta está correndo, e para a moda brasileira vale o enigma da esfinge: "Decifra-me ou te devoro"?

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Para saber o que aconteceu nas palestras da tarde vai lá no site do Pense Moda.
Ou no Modos de Moda

Comentários

  1. Adorei Laura!!!
    kkk, continue assim pra gente ficar por dentro do evento!
    bjos e boa apresentação!!!

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  2. Viva a independência. Foi ótimo ter vc lá hoje!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  3. Achei um site bem legal pra buscar informações sobre moda, aí vai o endereço: http://www.ziipi.com/result?pesquisa=moda

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