Esse texto foi publicado originalmente no linkedin, e é uma reflexão sobre meu trabalho como roteirista de não ficção.
DOCUMENTÁRIO
01 — Roteirista entra na pós-produção com a missão de estruturar o material bruto captado*
02 — Entra na etapa de pré-produção e planeja junto com o diretor (e equipe de pesquisa) o conteúdo a ser captado.
03 — Entra da etapa pré-produção desenvolve todo o conteúdo e entrega para o diretor captar.
04 — Entra na etapa de pré-produção, desenvolve o conteúdo com o diretor e faz as entrevistas no set.
05 — Entra na etapa de pré-produção, desenvolve o conteúdo com o diretor, faz as entrevistas no set e faz o roteiro do material bruto na pós-produção (o melhor dos mundos).
REALITY SHOW
(o roteirista também é chamado de Story Producer):
01 — Entra na pré-produção com a equipe de casting e pesquisa para estruturar as escaletas de gravação das possíveis histórias
02 — No set de filmagem: fica atenta aos acontecimentos e fica responsável por fazer os famosos depoimentos do reality (são eles que apimentam o conflito da narrativa)
03 — Na pós-produção: corta o texto e estrutura a narrativa do material bruto*, fazendo uma pré-seleção para o montador
04 — As três funções anteriores combinadas (também, o melhor dos mundos).
*estruturar o material bruto tanto em documentário quanto em reality pode ser feito de três maneiras:
I. em um arquivo de texto em tabelas de imagem áudio
II. na ilha de edição ao lado do montador ou assistente instruindo-o: “corta isso, deixa aquilo”
III. diretamente no software de edição.
Sou adepta da terceira opção porque é MUITO mais prática e rápida do que as duas primeiras. E ao contrário do que se possa pensar, só é preciso saber comandos básicos do software. Os montadores costumam gostar mais da segunda e da terceira porque já trabalham direto em uma timeline e não precisam ficar caçando os TCs no material bruto ;).
VARIEDADES/ INSTITUCIONAL
Esse talvez seja o caso mais bem resolvido da função do roteirista em projetos de não-ficção.
01- Na pré-produção: roteirista escreve as falas do apresentador/ narrador do projeto e eventuais pautas.
02 -Na pós-produção: Roteirista cria textos de off em cima do material bruto
03 — As duas opções anteriores combinadas
“Resolve na ilha”
Nesses anos teve de tudo. Vi projeto dar super certo porque teve roteiro desde o começo e um planejamento de conteúdo legal. Contudo, também vi projeto com premissa maravilhosa naufragar porque não teve planejamento de narrativa na pré- produção e o material captado no set foi ineficaz na pós-produção. E vi projeto bem planejado na pré e bem captado no set, derrapar na pós porque não tinham alguém com o olhar exclusivamente para o conteúdo na edição e o montador estava perdido e/ou sobrecarregado. Vi projeto dar super certo, as custas de muito desgate da equipe de pós-produção.
Roteiro para documentário é o que mais gera confusão. A herança do “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” de certa forma moldou a maneira de fazer documentário no Brasil. Se estamos falando de um documentário autoral sem questões de orçamento e prazo fixo de entrega o céu é o limite. Contudo, quando falamos de projetos comerciais com prazos de entrega (cada vez mais) restritos ter um roteirista desde o primeiro momento é muito importante porque ter um planejamento de captação do conteúdo poupa MUITO dinheiro e estresse no set de filmagem e principalmente na pós-produção.
Em tempos pós-pandemia, com os sets restritos, a criatividade do roteirista será ainda mais necessária para ajudar a criar a linguagem narrativa e de captação de projetos de não-ficção.
O roteirista é o arquiteto do audiovisual. Ele que cria o projeto da obra que será executada. O roteirista de não-ficção tem que ser tão ou mais criativo do que o profissional que se dedica à ficção, já que é preciso achar soluções a partir do que já está dado. E no final o objetivo de ambos é exatamente o mesmo: contar uma boa história.
PS: Ah! Na Argentina, onde estudei roteiro, o nome do roteirista entra na sinopse de jornal, ao lado do nome do diretor. Um dia a gente chega lá ;).
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