Eventos - Em geral, é muito ruim exagerar na roupa, mas penso que, em certas circunstâncias, é bastante mal-educado e errado estar simples demais. ("O Pequeno Dicionário de Moda: Um guia do bem-vestir para toda mulher", Christian Dior).
Com que roupa eu vou?
Durante algum tempo, em função de um trabalho, tive oportunidade de responder dúvidas de moda. Num chute rápido 60% delas se relacionavam a pergunta imortalizada pelo samba de Noel Rosa. Versavam principalmente sobre casamentos ou festas com traje definido no convite. Nestas ocasiões, os códigos não verbais são institucionalizados por meio das expressões "social completo", "esporte fino", "passeio", etc. Em outras palavras, os anfitriões solicitam que os convidados se padronizem em respeito ao evento por eles ofertado. Esta experiência me ensinou que a dúvida sobre o que vestir é uma muito mais profunda do que imagina nossa vã filosofia. É inerente ao ser humano querer ser amado, ser aceito em um determinado círculo social. A roupa certa, neste sentido, pode funcionar como um atalho rápido para alcançar objetivos, ou, afastá-los. O real estado de espírito costuma ser muito bem traduzido pelo que escolhemos vestir. O inconsciente é um fanfarrão.
Individualidade Até a hora em que formos convertidos em robôs - e espero que essa hora nunca chegue - , a individualidade sempre será uma das condições da verdadeira elegância. (C. Dior "O Pequeno Dicionário da Moda")
Durante o processo da pesquisa para o projeto do documentário que escrevi e dirigi sobre o meu avô, (mais informações sobre o projeto aqui) observando suas fotos, e lendo suas cartas profissionais e pessoais, me dei conta de que alguns códigos de comportamento se perderam no tempo. O terno e a gravata estavam para a convivência social, como o "Vossa Excelência" ou o "Ilmo Sr." em um cabeçalho de carta (na verdade tais costumes ainda estão preservados em alguns círculos, como o Congresso Nacional em Brasilia). Meu avô adorava gravata borboleta e nos anos 1970, passou a usar camisas estampadas celebrando a evolução da estamparia, então, inovação da indústria têxtil. Era seu jeito de ousar em meio à padronização das vestimentas do seu meio.
meu avô, como um dos homens das estilosos de São Paulo. Matéria do jornalista Olney Kruse Estado de S. Paulo em 1978 |
Chapéus Agora chegamos ao problema mais premente de nossos dias: você deve ou não usar chapéu? Eu acho que, na cidade, você não pode estar realmente bem vestida sem um chapéu. Ele realmente completa do seu traje e , de certo modo, é frequentemente a melhor maneira de mostrar sua personalidade. É mais fácil você se expressar com um chapéu de vez em quando do que com suas roupas. - Vale apontar que o verbete do chapéu é um dos mais extensos do livro. (C. Dior "O Pequeno Dicionário da Moda")
Minha avó nunca usou chapéu. Descobriu a calça jeans nos anos 1950, na época chamada de calça rancheira, e nunca mais usou outra coisa. Era descolada, mas sempre respeitou muito os códigos de vestimentas alheios. Punha tailleur para ir ao centro da cidade. Ela contava uma história para ilustrar. Feminista que era, costumava ir em reuniões de mulheres operárias nos longínquos anos 40 e 50 do século XX. Nestes encontros reparou que a maioria das moças iam com a chamada "roupa de domingo" ou "a roupa de ir à missa", como era costume dizer sobre a melhor roupa do armário. As integrantes mais moderninhas, iniciantes no movimento, iam com trajes mais desleixados, demonstrando um desapego aos padrões estéticos vigentes. Tais figurinos geraram desconforto nas integrantes originais do movimento. Conversando com elas, minha avó descobriu que usar a melhor roupa do armário era a maneira delas darem o melhor de si à causa na qual acreditavam.
Minha avó nos anos 1940, antes do jeans. |
...E lembrando desta história me vieram à cabeça outras duas. A primeira da artista botânica Margaret Mee. Ela embarcava na canoa no meio da Amazônia maquiada e com o figurino primoroso para encontrar as bromélias, flores que se especializou em desenhar. A segunda, das integrantes do corpo de baile da escola de dança que frequentei na infância. Elas estavam sempre impecáveis apenas para fazer a aula com a bailarina mestra.
Se for pensar bem, sempre nos produzimos para um primeiro encontro. Investimos na primeira impressão. Sempre gostei mais da ideia de se sentir bonita para simplesmente fazer o que gosta, como uma homenagem às próprias escolhas, num dia qualquer, sem motivo definido. Assim a beleza emerge. Convivendo. Naturalmente.
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