Deu vontade de escrever esse post, quase póstumo, sobre o filme “Coco antes de Chanel“. Ele concorreu ao Oscar de melhor figurino pelo trabalho de Catherine Leterrier. Dirigido por Anne Fontaine, narra a trajetória de Gabrielle Coco Chanel: da cantora de cabaré, passando pela “irrégulière” (nem esposa, nem prostituta), ao começo de sua carreira de criadora e empresária de moda. Sua ascensão acontece com a ajuda de dois homens, Étienne Balsan e Arthur 'Boy' Capel. A produção revela como ela ganhou o apelido “Coco“. Foi graças a uma música chamada “Qui Qu' a Vu Coco?”(quem viu Coco?), sobre um dono que perde seu cachorro chamado Coco.
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A trajetória da estilista mais famosa do século XX é mesmo fascinante. A superação impulsionada por um olhar visionário que mudou não só o seu destino, mas o rumo do vestuário feminino. Ela enfrentou a herança da infância pobre e o abandono dos pais, colocando sua criatividade para despertar desejos de consumo das damas da esnobe alta-sociedade francesa. Começou fazendo chapéus e tirava do cotidiano as idéias para suas criações. Chanel é a messias na bíblia da moda.
A Audrey Tatou está ótima, o figurino é mesmo primoroso. A direção de arte também. Só achei que os momentos em que ela tem suas eurecas! de estilo foram, boa parte, mostrados de um jeito quase forçado. Tipo: quando ela pega a camisa do seu amante Boy Capel no armário e pergunta à ele o tecido, ele responde jérsei. Tecido maleável que ela usaria muito em sua criações e que não aparece mais no filme. Ou quando ela olha os pescadores de camisa listrada e aparece do mesmo jeito na cena seguinte.
Há, porém, cenas interessantes, bastante didáticas, que mostram a atitude revolucionário dela como criadora e como mulher.O filme mostra o incômodo da criadora com o padrão de “mulher acessório“, comportada pelo espartilho.
Por exemplo:
quando ela cria para Emilienne D`Alençon (Emmanuelle Devos) uma fantasia de órfã para a festa que acontece na casa de Étienne Balsan. A personagem, uma atriz na trama, questiona Coco dizendo que não está exibindo seu corpo. Chanel argumenta que os homens ficariam mais animados em descobrir o que estava por baixo do vestido. Em outra cena, a atriz confirma que o mistério fez sucesso entre os rapazes.
Ou ainda: quando Chanel é a única de vestido preto em meio ao baile cheio de mulheres adequadas aos padrões da época.
Tem também: em um jantar com Boy Capel, o garçom fala "Madame" (senhora), e ela o corrige dizendo "Mademoiselle" (senhorita), impondo sua condição de solteira, que durou até o fim de sua vida.
E por último destacaria a fala de Boy Capel dizendo que ela era especial e deveria seguir a diante com seu talento para criação de moda.
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Seus biógrafos apontam, no entanto, que ela estava mais para as deusas da mitologia grega, de pecados capitais pronunciados, do que para o Jesus. Como todo gênio tinha um temperamento difícil. Seus valores eram duvidosos, gostava de uma fofoca e chegou a colocar fogo no vestido da estilista Elsa Schiaparelli, sua rival histórica. Também, fica difícil considerar se os relacionamentos que teve na vida foram por amor ou por interesse. E se foi por interesse ou não, ela foi a pessoa certa na hora certa.
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Hoje a marca Chanel é sinônimo do mais alto luxo e uma das marcas mais valiosas do mundo. Em 2008, estava na posição 85 no ranking da Brand Z. A luva de pelíca serviu para dar um soco no estômago daquelas pessoas que primeiro torceram o nariz. Na ocasião do lançamento do filme a jornalista Vanessa Barone publicou no jornal Ecônomico um texto bom sobre essa contradição entre a história da mulher Chanel e os atuais valores da marca. Uma pena, mas não achei pra reproduzir aqui.
Há quase 30 anos sob a batuta exemplar do alemão Karl Lagerfeld, a marca continua sendo lançadora de desejos. A cobiça pelos itens Chanel começa pelo esmalte, né? Porém, o kaiser da moda não está aqui para romper com mais nada. Deitou no berço esplêndido de lençóis de algodão egípcio da fama de Coco e fez a manutenção certinha.
na moda, assim como na natureza, na se cria tudo se transforma...
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Livros:
Alguma biografia da Chanel é um bom começo para se iniciar na moda. Eu tenho duas “Chanel: seu estilo, sua vida” de Janet Wallach e “A era Chanel” da Edmond Chales-Roux, esse último a obra que inspirou o filme de Anne Fontaine.
Há ainda um livro infantil chamado: “Diferente como Chanel” da Elisabeth Mathews e tradução da estilista Clô Orozco que é bem bonitinho, cheio de ilustrações lindas.
Para os mais interessados recomendo o meu livro sobre Chanel favorito: é o catálogo da exposição “Chanel” que ficou em cartaz em 2005 no Museu Metropolitam de Nova York (tem na Amazon). Os textos são em inglês e o livro tem fotos de todas as roupas que foram exibidas na mostra. Eu sempre dou uma olhadinha para me inspirar. A teoria de Chanel já é estimulante, mas é na prática, vendo os cortes, os tecidos, os acabamentos e o bom gosto dessa criadora que seu legado é perfeitamente legível.
aqui um videozinho que editei (tô aprendendo...) com algumas imagens do livro. O fundo de bolinhas é o meu edredon.
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cena final - Coco antes de Chanel
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Trailer
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outros...
entrevista com Chanel (em francês):
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mini doc. sobre Chanel (em inglês):
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Audrey Tatou dirigida por Jean Pierre Jeunet (o diretor de Amelie Poulain), na campanha do Chanel nº5
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A-MO
ResponderExcluirhttp://smmonique.blogspot.com/
BJOS
não vi mas vou ver
ResponderExcluirNossa, adorei.
ResponderExcluirMelhor e mais completo review do filme que já li.
Adorei o filme, embora tenha mostrado um lado meio fraco da Chanel. A versão americana mostra melhor a construção da carreira da estilista, embora a Tatou como Chanel ficou perfeita! Adoro ela! Muito legal o blog de vocês, parabéns!
ResponderExcluirPassem lá no nosso pra conhecer também (:
post super completo e, como sempre, cheio de informação de moda pra todo mundo aprender um pouquinho mais. Eu achei o filme ok, nada demais, tinha mais expectativas.
ResponderExcluirBjs, Aline.
Lembrei do blog quando postei isso aogra. Já viu? http://pernoquitas.blogspot.com/2010/03/pausa-pra-pensar-sobre-moda.html
ResponderExcluirAmo Chanel desde criança. Vi o filme e pretendo ler os livros. A mulher que revolucionou a moda no seu tempo hoje é sinônimo de clássico. Adoro!
ResponderExcluirOiiii Laura!!!! Linda materia!!!!bjos saudades! :)
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