Sábado fui pela primeira vez ao ZigueZague. São palestras e oficinas que acontecem no Museu de Arte Moderna paralelamente ao São Paulo Fashion Week. Assisti Marcelo Sommer falando sobre o tema “Desfiles Incríveis”.
No dia anterior ele mostrou a coleção outono inverno 2010 da sua grife Do Estilista. Foi uma experiência única vê-lo comentando seu trabalho com as sensações ainda fresquinhas. E certamente a apresentação na última sexta já pode ser categorizada com o título da palestra.
Maria Montero, artista plástica e curadora de arte, dividiu a mesa com seu amigo criador. Ela foi responsável pela exposição “A Casa Maluca de Marcelo Sommer”, que aconteceu em 2006 na House of Erik!a Palomino.
Foram apresentados os vídeos de dois desfiles: primavera verão 2001/ 2002 e primavera verão 2008/2009. Imediatamente lembrei (e muita gente na sala também) de tantos outros. Um que foi na rua Augusta. Outro inspirado na Islândia, cujo cenário era uma casa. Além daquele que teve chuva na passarela. E assim ficou evidente que estava diante de um especialista em shows memoráveis.
E ele confirma: “quero dar um presente para quem está assistindo. Não só aquele ping-pong de modelos”. Sommer acredita que o desfile é a tradução de uma época. “Busco tratar com verdade tudo aquilo que passo”. E reiterou sua proposta: “sempre tento aproveitar o SPFW para me expressar artisticamente. Não saberia fazer um desfile de roupas comerciais”.
A coleção de 2008 ele teve como referências fantasias de carnaval do universo feminino. Estavam lá: anjo, empregada doméstica, noiva, pirata e até uma burca. Esse desfile aconteceu no mesmo MAM em meio a uma exposição comemorativa ao centenário da imigração japonesa. “Tive que assinar um documento me responsabilizando por qualquer dano às obras”, revelou o estilista.
No desfile de 2001, chamado de “House Barroco”, assim como esse São Paulo Fashion Week, o casting era formado por amigos (aliás, o primeiro desfile de Marcelo Sommer no Phytoervas Fashion também contou com amigos na passarela). O cenário sugeria o jardim de um castelo misturado com globos de discoteca. Os modelos tinham a missão de fazer uma dancinha na ponta da passarela. Ele revela que estava envolvido com a noite carioca e naquela ocasião a vertente house da música eletrônica imperava.
Contudo, Sommer reflete que não tem como escapar da tríade: roupa, modelo e passarela. E confessa: “Modelos não convencionais dão mais trabalho”. Afinal, as roupas devem ser feitas para corpos comuns.
O desfile outono/ inverno 2010 de sua grife Do Estilista teve o chão da passarela coberto de carvão. A idéia inicial era incendiar as roupas! Mas para não colocar a famosa brigada de incêndio em ação, ele achou melhor deixar o plano de lado.
A inspiração do criador foi o “Anarcoprimitivismo”. Bem resumidamente: um movimento de ser sem teto por opção que acontece em algumas partes do mundo. Todos os looks eram pretos, exceto o último. Um vestido verde de estampado com samambaias usado pela modelo e musa, Luciana Curtis. Não por acaso, grávida. “O David Pollack (stylist do desfile) não queria cor, mas eu pensei que precisávamos de um trevo de quatro folhas”.
Maria Montero comentou que um desfile entre amigos poderia dar a sensação de “piada interna”. Os espectadores discordaram, dizendo que mexeu com o inconsciente coletivo. E a palestrante concluiu: “o desfile com gente ´normal´ acaba humanizando o espetáculo“.
Os comentários do público giraram em torno de doçura, melancolia, esperança, sensibilidade, e principalmente, olhar a moda de outra maneira. Ele reconhece seu talento para tocar na memória afetiva das pessoas e assume seu lado melancólico. Fala sem medo, rebatendo a opinião de alguns críticos a respeito da sensação de tristeza do desfile: “nem tudo é alegria nessa vida”.
Se a passarela soou triste para alguns críticos, no camarim o clima era bem diferente. “Parecia uma festa. Um monte de gente trouxe a mãe e a avó para assistir”.
Quando perguntado sobre qual o retorno comercial dos desfiles conceituais, ele foi enfático: “É ruim" e continuou "Mas, acaba gerando coisas boas para mim”. Além de tocar sua marca, Sommer já trabalhou para Cavalera, TNG, CeA e para a grife da ONG Afroreggae.
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Para entender melhor essa coleção outono/ inverno 2010 vale a pena ler o release. Está publicado no blog Do Estilista.
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Recomendo também a leitura de “Marcelo Sommer” da coleção Moda Brasileira. Uma ótima retrospectiva da carreira dele, além de um lindo livro.
***
Falando em memória afetiva, lembro lá pelos idos de 1996 (ou 95 talvez), quando era estudante e começava a desbravar São Paulo sozinha, adorava ir ao Mercado Mundo Mix. Marcelo Sommer tinha barraquinha lá. Cheguei a comprar uma camiseta com estampa de carta de baralho, mas não fui visionária o suficiente para guardar. Hoje seria uma relíquia.
No dia anterior ele mostrou a coleção outono inverno 2010 da sua grife Do Estilista. Foi uma experiência única vê-lo comentando seu trabalho com as sensações ainda fresquinhas. E certamente a apresentação na última sexta já pode ser categorizada com o título da palestra.
Maria Montero, artista plástica e curadora de arte, dividiu a mesa com seu amigo criador. Ela foi responsável pela exposição “A Casa Maluca de Marcelo Sommer”, que aconteceu em 2006 na House of Erik!a Palomino.
Foram apresentados os vídeos de dois desfiles: primavera verão 2001/ 2002 e primavera verão 2008/2009. Imediatamente lembrei (e muita gente na sala também) de tantos outros. Um que foi na rua Augusta. Outro inspirado na Islândia, cujo cenário era uma casa. Além daquele que teve chuva na passarela. E assim ficou evidente que estava diante de um especialista em shows memoráveis.
E ele confirma: “quero dar um presente para quem está assistindo. Não só aquele ping-pong de modelos”. Sommer acredita que o desfile é a tradução de uma época. “Busco tratar com verdade tudo aquilo que passo”. E reiterou sua proposta: “sempre tento aproveitar o SPFW para me expressar artisticamente. Não saberia fazer um desfile de roupas comerciais”.
Aqui um link com fotos de vários desfiles de Marcelo Sommer.
A coleção de 2008 ele teve como referências fantasias de carnaval do universo feminino. Estavam lá: anjo, empregada doméstica, noiva, pirata e até uma burca. Esse desfile aconteceu no mesmo MAM em meio a uma exposição comemorativa ao centenário da imigração japonesa. “Tive que assinar um documento me responsabilizando por qualquer dano às obras”, revelou o estilista.
No desfile de 2001, chamado de “House Barroco”, assim como esse São Paulo Fashion Week, o casting era formado por amigos (aliás, o primeiro desfile de Marcelo Sommer no Phytoervas Fashion também contou com amigos na passarela). O cenário sugeria o jardim de um castelo misturado com globos de discoteca. Os modelos tinham a missão de fazer uma dancinha na ponta da passarela. Ele revela que estava envolvido com a noite carioca e naquela ocasião a vertente house da música eletrônica imperava.
Dudu Bertholini em 2001
Luciana Curtis em 2001
Fotos Alexandre Tahira / Terra Moda
Luciana Curtis em 2001
Fotos Alexandre Tahira / Terra Moda
Contudo, Sommer reflete que não tem como escapar da tríade: roupa, modelo e passarela. E confessa: “Modelos não convencionais dão mais trabalho”. Afinal, as roupas devem ser feitas para corpos comuns.
O desfile outono/ inverno 2010 de sua grife Do Estilista teve o chão da passarela coberto de carvão. A idéia inicial era incendiar as roupas! Mas para não colocar a famosa brigada de incêndio em ação, ele achou melhor deixar o plano de lado.
A inspiração do criador foi o “Anarcoprimitivismo”. Bem resumidamente: um movimento de ser sem teto por opção que acontece em algumas partes do mundo. Todos os looks eram pretos, exceto o último. Um vestido verde de estampado com samambaias usado pela modelo e musa, Luciana Curtis. Não por acaso, grávida. “O David Pollack (stylist do desfile) não queria cor, mas eu pensei que precisávamos de um trevo de quatro folhas”.
Maria Montero comentou que um desfile entre amigos poderia dar a sensação de “piada interna”. Os espectadores discordaram, dizendo que mexeu com o inconsciente coletivo. E a palestrante concluiu: “o desfile com gente ´normal´ acaba humanizando o espetáculo“.
fotos: Oficina de Estilo
Os comentários do público giraram em torno de doçura, melancolia, esperança, sensibilidade, e principalmente, olhar a moda de outra maneira. Ele reconhece seu talento para tocar na memória afetiva das pessoas e assume seu lado melancólico. Fala sem medo, rebatendo a opinião de alguns críticos a respeito da sensação de tristeza do desfile: “nem tudo é alegria nessa vida”.
Se a passarela soou triste para alguns críticos, no camarim o clima era bem diferente. “Parecia uma festa. Um monte de gente trouxe a mãe e a avó para assistir”.
Quando perguntado sobre qual o retorno comercial dos desfiles conceituais, ele foi enfático: “É ruim" e continuou "Mas, acaba gerando coisas boas para mim”. Além de tocar sua marca, Sommer já trabalhou para Cavalera, TNG, CeA e para a grife da ONG Afroreggae.
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Para entender melhor essa coleção outono/ inverno 2010 vale a pena ler o release. Está publicado no blog Do Estilista.
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Recomendo também a leitura de “Marcelo Sommer” da coleção Moda Brasileira. Uma ótima retrospectiva da carreira dele, além de um lindo livro.
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Falando em memória afetiva, lembro lá pelos idos de 1996 (ou 95 talvez), quando era estudante e começava a desbravar São Paulo sozinha, adorava ir ao Mercado Mundo Mix. Marcelo Sommer tinha barraquinha lá. Cheguei a comprar uma camiseta com estampa de carta de baralho, mas não fui visionária o suficiente para guardar. Hoje seria uma relíquia.
Olá, Laura
ResponderExcluirTudo bem? Sou da Duetto Editorial, que publica a edição brasileira da revista L’Officiel – desculpe-me a invasão, mas não encontrei um email de contato. O fato é que como seu blog aborda justamente o tema da revista, ou seja, moda, acredito que você possa se interessar em receber nossas atualizações e novidades web quando elas surgirem, seja para informação, divulgação ou inspiração para seus posts. Entre em contato comigo se quiser recebê-las.
Para conhecer o website da L’Officiel, visite http://lofficielbrasil.uol.com.br .
Obrigada,
Fernanda Figueiredo
Redatora Web
fernanda.figueiredo@duettoeditorial.com.br