Uma tarde com Marciana

As vésperas do seu 5º desfile no Rio Moda Hype dentro do Fashion Rio, Marciana passou por São Paulo e montou um bazar divulgado no email-a-email dentro do salão de festas do prédio de uma amiga.

A oportunidade de conversar tête-à-tête com a criadora, cujo trabalho acompanho e admiro, me estimulou a ir até lá e fazer uma matéria para o blog. Aproveitei e comprei um lindo vestido vermelho que coloquei na mesma hora.

De perto, o trabalho delicado e caprichado realmente encanta. As roupas têm um ar inocente. Cai bem em meninas românticas, que prezam pela exclusividade e sofisticação. A estilista passa a imagem de uma pessoa serena e dedicada. Atendia as compradoras com gentileza, sugeria combinações e observava bastante. Foi a primeira vez que fez um bazar na capital paulista. Outra venda foi feita da mesma forma em Juiz de Fora, estimulada pela mesma amiga.

Natural de Volta Redonda, a estilista de 25 anos cresceu vendo a mãe fazer roupas para noivas e madrinhas. A opção pela moda deixou a costureira muito feliz e hoje as duas dividem o ateliê na cidade natal.

Formada pela universidade Veiga de Almeida no Rio conheceu de perto o trabalho de Zuzu Angel. A protagonista da cinebiografia que estréia em agosto é a grande referencia de Marciana. “Estudei muito o trabalho dela, principalmente a parte anterior a morte de seu filho”. A brasilidade pioneira da criadora foi o fio condutor no inicio de carreira da jovem estilista que fez seu trabalho de conclusão de curso baseado na obra de Zuzu.

Após a formatura em 2002, passou a vender suas roupas na Babilônia Feira Hype no Rio de Janeiro. Foi o trampolim para a seleção ao Fashion Rio. “Acho importante acontecer esse tipo de estimulo aos novos talentos, dá asa ao meu sonho”.

A participação num evento grande dá a impressão que a marca também é, contudo a realidade é bem diferente. Trabalhando sozinha, ela coordena uma equipe de quatro costureiras e duas bordadeiras que trabalham de maneira terceirizada, e acaba ficando responsável ainda pelas vendas, divulgação entres outras demandas da grife.

A produção de peças é pequena porque o trabalho é artesanal. Uma saia que estava em sua última coleção inspirada no artista plástico Arthur Bispo do Rosário* demorou cerca de 20 dias para ser bordada. Por enquanto as roupas são vendidas em três pontos de venda no Rio de Janeiro e a expectativa é atrair mais compradores durante o próximo desfile.

Agora, Marciana está “arrancando os cabelos” para apresentar a coleção de verão no próximo dia 10 de junho. No rumo certo, ela é uma forte candidata à expoente da moda nacional num futuro próximo.

Onde Comprar:
Ateliê: Av. 17 de julho, 583/ 102 Aterrado. Volta Redonda RJ
Multimarcas:
Ateliê Real - R. Real Grandeza, 182 casa 4b. Botafogo (21) 2537.4924
Casa das Meninas - Rua Pacheco Leão, 758 Sobrado -Horto Florestal (21) 2512.9517

Crédito das Fotos: Laura e divulgação Rio Moda Hype
Legendas: Marciana e roupas expostas no bazar.
Última: coleção inspirada em Artur Bispo do Rosário
Agradecimentos: Priscila pela mensagem avisando do bazar, Michaela (responsável pela organização do bazar) pelo gentil e-mail de confirmação e Livia pela companhia na tarde de sábado.


***
Artur Bispo do Rosário



Vale um textinho sobre o artista que inspirou Marciana na coleção de inverno. Não é a primeira vez que a moda reverencia esse artista tão singular. Sua obra mais ilustre: “O manto de apresentação” (foto acima) esteve na exposição Fashion Passion que aconteceu em 2004 na OCA.

Suas obras são lindas e se tornam angustiantes quando a história do artista é revelada. Os trabalhos eram feitos com lixo, restos de linhas, material variado que caia em suas mãos. Toda sua produção foi feita na Colônia Psiquiátrica Juliano Moreira, no Rio de Janeiro. O manto de apresentação, por exemplo, Bispo dizia que iria usar no Juízo final. Inteiramente bordado com casas, passarinhos e com os nomes das mulheres que salvaria quando o grande dia chegasse.

Artur Bispo do Rosário nasceu em 1911 em Sergipe, e veio para o Rio de Janeiro se alistar na Marinha. Em 1939 delirou nas ruas por dois dias e foi levado ao hospital psiquiátrico Pedro II e diagnosticado como esquizofrênico-paranóico. De lá foi transferido para a colônia onde viveu por 50 anos até sua morte em 1989. A maior parte do tempo ficava isolado porque tinha o comportamento agressivo com os outros internos.

Sua obra está no Museu Artur Bispo do Rosário que fica no Rio de Janeiro. Seu nome é intitula um prêmio destinado a artistas que sofrem de distúrbios mentais.

Sobre sua arte dizia: “Não faço isto para os homens, mas para Deus”. Não estava errado.

Museu Artur Bispo do Rosário
Estrada Rodrigues Caldas, 3.400 - Taquara
Telefone: (21) 2446-6628

Crédito da foto: Ebay França

Comentários

  1. quando recebi o convite, você laurinha, foi a primeira pessoa que pensei em convidar e valeu a pena...
    beijo

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  2. Fofo o trabalho dela!!!! Tem em SP?????

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